Quando vamos à escola pela primeira vez, ficamos ansiosos para saber como serão nossos colegas, ficamos preocupados com o quê as pessoas vão achar, se um(a) menino(a) vai observar como seu cabelo está despenteado e horroroso, se uma espinha no rosto vai ser notada. Isso acontece muito com os jovens principalmente, naquela fase mais gostosa da vida. A vaidade talvez não seja uma coisa totalmente supérflua nessa fase, mas como todas as coisas, deve ser medida.
Na escola de música, me resumindo aos ensaios de coral, principalmente com uma obra difícil como o Réquiem de Mozart, ocorrem tais vaidades... não, não falo de espinhas na cara. Quando cheguei no ambiente de ensaio, uns vinte minutos antes, havia muitas pessoas preocupadas com a voz, o que é natural e saudável nesse campo. O problema é que essa preocupação se traduzia assim: "será que vou consegui aquela nota aguda?" Claro que é bom querer poder atingir essa nota, mas se é uma pessoa inexperiente quem fala, o pensamento principal deveria ser: "como faço para atingir tais notas?" É uma pena que as pessoas já queiram tudo pronto, tudo perfeito de início. Há uma vontade de imediatismo muito grande em nossa sociedade moderna. Antigamente, a arte ficava livre disso, mas como tudo hoje quer a hegemonia, até ela está corrompida com um efeito imediato de beleza.
Ora, nada fica belo num só dia. De qualquer maneira, fiquei satisfeito com aquilo tudo, pois talvez querer que as pessoas pensem de determinada maneira também é imediatismo, ou pior, incapacidade de aceitar a diferença. Bem, o que me chamou a atenção foi que muita gente não sabia ler partitura. Não sabiam ler, mas estavam dispostas a encarar o desafio da grande missa, o que é muito apreciável.
Nós fizemos os exercícios de aquecimento rotineiros, para forçarmos até o possível nossa voz nos graves e nos agudos. Foi muito bom.
O regente se chama Flávio Medeiros. Ele simplesmente é fascinante, tem uma segurança muito boa. Ele acompanhava no piano a melodia de cada naipe vocal, reclamava dos relaxados. Achei muito bom o que ele falou: "Não importa quem escreveu tais peças do requiem, o importante é que elas são bonitas.". Por mais que não tenha sido uma opinião fundamentada na historiografia musical, ela faz sentido para a sensação em nossas veias do sentido do belo. Tudo bem que Susmayr tenha uma orquestração desajeitada, o importante é que há 200 anos o requiem não foi contestado, até os historiadores se meterem na década de 1980. Estamos seguindo a edição tradicional.
Demorei a postar isso pois não tive tempo de escrever, e mesmo isso aqui está mais para rascunho. Ainda tem tantos detalhes que quero contar. Fica aqui minhas mais humildes desculpas pelo relato tão apressado.