quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O Primeiro Dia

Quando vamos à escola pela primeira vez, ficamos ansiosos para saber como serão nossos colegas, ficamos preocupados com o quê as pessoas vão achar, se um(a) menino(a) vai observar como seu cabelo está despenteado e horroroso, se uma espinha no rosto vai ser notada. Isso acontece muito com os jovens principalmente, naquela fase mais gostosa da vida. A vaidade talvez não seja uma coisa totalmente supérflua nessa fase, mas como todas as coisas, deve ser medida.
Na escola de música, me resumindo aos ensaios de coral, principalmente com uma obra difícil como o Réquiem de Mozart, ocorrem tais vaidades... não, não falo de espinhas na cara. Quando cheguei no ambiente de ensaio, uns vinte minutos antes, havia muitas pessoas preocupadas com a voz, o que é natural e saudável nesse campo. O problema é que essa preocupação se traduzia assim: "será que vou consegui aquela nota aguda?" Claro que é bom querer poder atingir essa nota, mas se é uma pessoa inexperiente quem fala, o pensamento principal deveria ser: "como faço para atingir tais notas?" É uma pena que as pessoas já queiram tudo pronto, tudo perfeito de início. Há uma vontade de imediatismo muito grande em nossa sociedade moderna. Antigamente, a arte ficava livre disso, mas como tudo hoje quer a hegemonia, até ela está corrompida com um efeito imediato de beleza.
Ora, nada fica belo num só dia. De qualquer maneira, fiquei satisfeito com aquilo tudo, pois talvez querer que as pessoas pensem de determinada maneira também é imediatismo, ou pior, incapacidade de aceitar a diferença. Bem, o que me chamou a atenção foi que muita gente não sabia ler partitura. Não sabiam ler, mas estavam dispostas a encarar o desafio da grande missa, o que é muito apreciável.
Nós fizemos os exercícios de aquecimento rotineiros, para forçarmos até o possível nossa voz nos graves e nos agudos. Foi muito bom.
O regente se chama Flávio Medeiros. Ele simplesmente é fascinante, tem uma segurança muito boa. Ele acompanhava no piano a melodia de cada naipe vocal, reclamava dos relaxados. Achei muito bom o que ele falou: "Não importa quem escreveu tais peças do requiem, o importante é que elas são bonitas.". Por mais que não tenha sido uma opinião fundamentada na historiografia musical, ela faz sentido para a sensação em nossas veias do sentido do belo. Tudo bem que Susmayr tenha uma orquestração desajeitada, o importante é que há 200 anos o requiem não foi contestado, até os historiadores se meterem na década de 1980. Estamos seguindo a edição tradicional.
Demorei a postar isso pois não tive tempo de escrever, e mesmo isso aqui está mais para rascunho. Ainda tem tantos detalhes que quero contar. Fica aqui minhas mais humildes desculpas pelo relato tão apressado.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A primeira vez que eu ouvi o Requiem

Eu me lembro bem da tarde que eu estava lendo um livro muito bom, chamado O rio trás, o rio leva, de Ganimédes José, um paradidático de colégio, eu tinha uns dez anos de idade. Não me lembro muito bem sobre o que se tratava, só me lembro que gostei muito na época. Eu e minha vizinha trocávamos livros, e acho que até hoje esse livro está com ela.
Bem, eu estava lendo esse livro e de repente meu pai aparece e me mostra uma fita VHS. Um amigo dele tinha-lhe dado, e por ignorar e pouco se importar com o conteúdo daquilo, meu pai deu para mim: tratava-se justamente do Réquiem de Mozart, regido pelo maestro George Solti. Estranho aquilo ter aparecido nas minhas mãos daquela forma. Bem, claro que conhecia Mozart, mas conhecia apenas aquelas melodias mais comuns, que até o público mais comum conhece, como Eine Kleine Nachtmusik. Eu ainda não entendia de música erudita (depois filosofaremos a respeito desse termo) como entendo hoje, apenas conhecia dois nomes: Mozart e Beethoven, e dizia que gostava deles. Caramba, nem Bach eu conhecia...
Bem, quem está acostumado com aquelas melodias agradáveis de se ouvir tomando banho de chuva, aquelas músicas que te deixam extremamente feliz, ou simplesmente indiferente, digamos... quando começou aquele movimento lento, o Introitus, aqueles primeiros compassos, até ali tudo bem. Até a entrada do coral. Foi a primeira vez que vi um coral. Fiquei apenas fascinado. O kyrie e depois a Dies Irae logo em seguida era outra arte: uma grande guerra de timbres vocálicos. Caramba, poderia ter morrido de medo... mas como aquilo era bonito.
Engraçado, tem uma amiga minha que tem trauma daquela música: estávamos juntos, ela a me apresentar as as suítes para violoncelo de Bach, depois perguntei se ela já tinha assistido o Requiem de Mozart: entusiasmada, porque não tinha escutado ainda, pus o DVD (adquiri aquele vídeo VHS em DVD depois). Ela começou a assistir; no segundo movimento, rapidamente me pediu para mudar de faixa fazendo uma careta horrorosa... o pai dela pôs aquela música quando ela era pequenina, e a criança ficou com medo; o trauma inconsciente estava ali. O resto ela assistiu com o maior prazer. Outra amiga tem medo de O Fortuna de Orff, mas não vou perder tempo aqui, visto que só pode ser traumas de infância.
Engraçado naquele vídeo eram as caretas de Solti regendo, imperdível, assim como a mezzo-soprano Cecília Bartoli "cacarejando". De certa forma, estas observações extra-musicais amenizam o impácto imediato, pois você começa a rir. Mas todos estavam ótimos, tudo muito bem interpretado. Foi uma experiência ótima para mim.
Para os que ainda não ouviram: é impossível ficar indiferente. Logo postarei o Requiem de Mozart para vocês conferirem. Aguardem. Quem sabe amanhã...

sábado, 7 de fevereiro de 2009

A que veio este sítio

Diante de todas as nuances de minha vida, estava deprimido, me sentindo incapaz de realizar qualquer um de meus projetos; estava cansado de apenas sonhar. Mas não sabia por onde começar. Minha depressão estava a me trancafiar em meus obscuros pensamentos. Não conseguia reagir. Minhas lições de piano no consevatório eram boas, mas eu não estava aguentando me sustentar em pé sozinho. Não conseguia passar duas horas tocando para mim mesmo aquelas lições de Bartók, por mais seja meu compositor predileto... tocar para as paredes é uma coisa absurda, visto que a música é um meio de comunicação, e é um meio em que você não pode viver sozinho. Então dei um grito e disse que para as paredes eu não tocava mais. Falo num sentido mais amplo: eu não iria viver só para mim. Trancafiar-me em meu quarto só estava me causando um desgosto da vida. Então com a ajuda de minha mãe, estudante do curso de geografia na Universidade Federal de Pernambuco, fui buscar novos caminhos. Ela me levou para colher informações a respeito do curso de música. Foi quinta - feira dia 7 de fevereiro, dois dias atrás. Tinha ido buscar informações para o curso de piano na Federal, mas não se tinha professores para tal curso (inacreditável - falo do curso para gente de fora da universidade, claro). Mas logo vi num papel um convite da Universidade, e tal papel pregado na parede talvez seja uma nova janela aberta na minha frente. Eis o que dizia:
As pessoas interessadas a participarem do coro do Requiem de Mozart, os ensaios serão na quarta - feira das 12h as 14h.
Claro que quis na hora participar daqueles encontros - imaginem, a obra final de Wolfgang Amadeus Mozart, a sua mais magnífica obra. Já havia acontecido um encontro, mas acho não terá problemas eu não ter ido, afinal eu não sabia. Agora, o interessante é que busquei mais informações pela internet a respeito: não há informações de nada a respeito dos eventos de música da Universidade. E o próprio site da Universidade, onde há links diretos para a maioria das áreas, não há para o curso de música. Fazer o quê né? Bem, agora que estou sabendo desses encontros, aguardo com enorme expectativa a próxima quarta - feira.
Eu comecei esse texto falando de mim e de minhas depressões. Talvez tenha criado uma visão erronea do que esse blog pretende em si. Não vim aqui para falar propriamente dos meus sentimentos. Mas como tinha que dar um motivo para a realização desse ato, tive que começar dessa maneira.
Na verdade o que pretendo é contar a história de um processo criativo artístico, quero comentar e fazer um diário do que essa experiência, que tem tudo para ser maravilhosa, me proporcionará. Fica aqui minhas expectativas para a quarta - feira próxima.